Entre os 48 segundos, no Bangladesh, e os 15 minutos em Portugal, não escolhemos nenhuma duração. É o estado do indivíduo que deve ditar qual o tempo de duração de uma consulta

Há quem se dedique a estudar estes tempos e a tirar daí evidências, não menos importantes. Desta vez o estudo abrangeu 67 países e os resultados foram publicados na “British Medical Journal Open”. Em 15 desses países (que representam metade da população mundial), concluiu-se que a duração média de uma consulta de cuidados primários é inferior a cinco minutos.

Em campos opostos estão o Bangladesh, onde o tempo médio de uma consulta é de 48 segundos, e a Suécia, onde uma consulta tem um tempo médio de 22,5 minutos. Em Portugal, nem 8 oito, nem 80. As consultas nos centros de saúde portugueses duram, em média, 15 minutos. O presente estudo concluiu ainda que os piores resultados em saúde estão associados a tempos mais curtos de consultas, juntando-se ainda o cansaço extremo dos profissionais de saúde e uma evidente relação entre consultas mais curtas e uso excessivo de antibióticos.

Dito assim, parece muito estranho andar a contar a duração de uma consulta e, mais esquisito ainda tentar encontrar um tempo médio razoável/aceitável. Os fatores que podem contribuir para a duração de uma consulta são múltiplos e podem começar logo pela idade do doente, tipo de escolaridade, existência ou não de doenças crónicas, existência ou não de doença mental, se é ou não uma primeira consulta, se é ou não necessária a realização de exames de diagnóstico, perceber se o doente está à procura de uma consulta de rotina ou se está em situação aguda e por aí adiante.

É no encontro cara a cara (doente/médico) que deve existir a sensibilidade suficiente para perceber se está na altura ou não de dar por terminada a consulta. E, mesmo que se admita que este tempo é importante para todos (porque é), são os resultados que nos podem ajudar a medir a eficácia do tempo “gasto” na consulta.

A nossa experiência diz-nos que o doente não tolera de todo o tempo de espera para entrar no consultório mas, depois de iniciada a consulta, o espaço para divagação/introdução e finalização é amplamente usado, parece que o tempo voa, quando se está cara a cara com o médico e já poucos se lembram que há outros doentes lá fora, também à espera.

A prática também nos tem demonstrado que, por vontade de alguns doentes, o tempo médio de cada consulta deveria ser efetivamente cronometrado, porque só assim se poderia evitar o atraso da entrada do doente que se segue e que, a verificar-se, irá provocar uma demora acumulada. Razão porque muitas vezes é difícil perceber por que razão a consulta não começa na hora previamente marcada. Mas, será que queremos mesmo ir por ai? Asseguramos que não é uma gestão fácil.

Se é verdade que, muitas vezes e em situações de mero controlo da doença, as consultas podem demorar 10 minutos, não é menos verdade que, em muitos outros casos, o apuramento da história clínica exige mais tempo, sem relógios, sem cronómetro e sem tempos previamente definidos ou marcados. Claro que a inteligência artificial pode vir a resolver este dilema entre o tempo de espera por uma consulta e a sua duração. Mas é isso mesmo que queremos? Onde fica a confiança?

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