É o sol que desencadeia a produção de vitamina D na pele. Retemos isso com facilidade, mas demoramos a interiorizar que esse mesmo sol também pode ser o inimigo público nº 1. Distribuem-se alertas, lançam-se campanhas, dias de sensibilização e continuamos a acumular doses excessivas de radiação. Que pele queremos vestir daqui a cinco ou dez anos?

Arranjamos falsas sensações de proteção e arriscamos expor o órgão que nos protege do calor, da luz, dos ferimentos e das infeções a um concentrado de sol. Tudo em troca de um bronzeado que não temos. Esquecemos ou desvalorizamos as agressões a que sujeitamos a nossa pele e nem nos lembramos que provocamos ou desencadeamos o indesejado fotoenvelhecimento.

O resultado acaba por se traduzir em números e as estimativas apontam para 10 mil novos casos de cancro de pele por ano, admitindo-se que um em cada cinco portugueses pode ter cancro de pele, tudo causado por um excesso de radiação, a que se deve juntar a suscetibilidade genética.

O uso que fazemos do sol ao longo da vida vai ditar o destino para a pele que vestimos, isto porque «para além dos fatores genéticos, devemos juntar a acumulação da radiação solar e o número de queimaduras solares a que sujeitamos a nossa pele ao longo da vida». Evelina Ruas, dermatologista, destaca como fundamental evitar a exposição solar excessiva, em elevadas doses e curtos períodos «como acontece por exemplo durante uma ou duas semanas de férias na praia, a exposição intermitente e intensa ao sol é potencialmente cancerígena. Este tipo de exposição tem influência no aumento da suscetibilidade a desenvolver o tumor de pele mais agressivo, o melanoma maligno».

Quando a acumulação da radiação solar é gradual, em indivíduos cuja profissão exige trabalhar no exterior (agricultores, marinheiros, etc..) e em que a exposição não é da totalidade da superfície corporal, como acontece na praia, «parece não existir uma relação tão direta com o melanoma. Isso acontece em grupos profissionais que podem desenvolver outro tipo de tumores da pele, mas não necessariamente o tipo mais agressivo e mortal», explica a especialista.

De entre os tumores de pele, o melanoma «é o mais temível pela agressividade que lhe pode estar inerente, uma vez que tem uma rápida capacidade de invasão para outros órgãos». É a deteção precoce que dita a cura do melanoma. «A diferença entre a cura ou os casos de pior prognóstico, mais agressivos é nos dada através de uma análise microscópica do sinal».

O carcinoma basocelular (basalioma), o carcinoma espinocelular e o melanoma são os três tipos de cancro de pele mais frequentes, o seu tratamento inicial é cirúrgico sendo que o melanoma, em etapas mais avançadas, deve ser acompanhado nas unidades médicas oncológicas.

A excisão cirúrgica destes tumores é realizada no Centro Cirúrgico de Coimbra.

Além do tratamento cirúrgico clássico, no carcinoma espinocelular e no basalioma, em casos selecionados, este tratamento pode ser substituído pela cirurgia a frio – criocirurgia – ou pelo uso de laser cirúrgico ablativo ou laser CO2.

Mitos que enganam

Há verdades inabaláveis e, no caso do sol, mantém-se a regra de evitar uma exposição entre as 11h00 e as 17h00. À falta de relógio, só nos devemos expor quando a nossa sombra for maior do que o nosso corpo.

Fora deste horário proibitivo, a exposição solar continua a estar sujeita a regras e o protetor solar deve ser um complemento, apenas. Não nos devemos render a uma sensação de segurança, porque é falsa. Devemos ter presente que nenhum protetor solar protege totalmente e, independentemente do tipo de pele, o fator de proteção deve ser sempre igual ou superiora 30 e, durante todo o período de exposição em férias, deve-se usar sempre um índice de proteção elevado.

Depois, de nada adianta imitarmos a avestruz e pensar que nos podemos refugiar das radiações solares dentro de água (mar ou piscina) ou debaixo da sombra do guarda-sol. A sombra protege alguma coisa, mas não escapamos de receber a dita radiação, porque esta é refletida na areia em 40%. Da mesma forma que é errado pensar que nos dias nublados estamos protegidos, só porque o sol se “esconde”.

A especialista Evelina Ruas é a parceira do Centro Cirúrgico de Coimbra para a área da Dermatologia.

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