«Não devemos cair na falácia de que o objetivo da vida é a felicidade», Tiago Reis Marques, psiquiatra, fala do caminho a percorrer para alcançar o tão desejado bem-estar. O silêncio, o exercício físico e a procura de um objetivo e/ou propósito de vida são ingredientes essenciais. Mas, note bem, a felicidade não tem que ser um fim

Seja em sociedade ou enquanto indivíduo, o ser humano sempre trabalhou para fugir à fome, erradicar a doença e criar bem-estar material. É quando se atinge este patamar que começamos a procurar outras respostas para a razão de viver e, se as perguntas ficarem muito tempo sem resposta, essa espera pode gerar angústia e tristeza.

«Na idade produtiva é muito fácil andarmos ocupados a trabalhar e sem tempo para outras questões, é quando paramos que as perguntas surgem e, à medida que envelhecemos, a insatisfação pode tomar conta dos nossos pensamentos», explica Tiago Reis Marques. O psiquiatra aclara que «a felicidade não tem que ser um fim, pode ser antes um estado e tento explicar isso mesmo, que o objetivo de vida não tem de ser obrigatoriamente a procura da felicidade. O objetivo da vida pode ser a procura de um propósito. Eu próprio pergunto muito às pessoas o que andam cá a fazer, qual é o seu propósito?» E as pessoas sabem responder? «Muitas pessoas nunca pensaram nisso», acrescenta, para logo a seguir explicar que «o objetivo da vida deve ser encontrado dentro de cada pessoa. Muitas vezes, a felicidade é só um estado transitório». Isto é, todos nós temos momentos na vida de grande alegria e felicidade, mas também um estado de plenitude, de bem-estar, «uma fase da vida em que tudo parece estar bem».

«Quando o corpo e a mente estão em silêncio, não se queixando, é, normalmente, um sinal de que tudo está bem. É por aí que passa aquilo que nós definimos como felicidade». Os gritos, os berros e os comportamentos agressivos não fazem parte desta definição e, quando assistimos a isso, «é porque o cérebro das pessoas se está a queixar».

Sobre a pergunta, “como ser feliz, ou como encontrar o tal bem-estar”, Tiago Reis Marques confessa que é confrontado com essa questão todos os dias. «Acho que quando a pessoa diz que quer voltar a ser feliz, na verdade, muitas vezes, o que quer dizer é que quer voltar a estar bem». E como se faz? Se não existiu nenhum acontecimento externo que interrompeu uma vida satisfatória, o problema poderá ser interno e passará por corrigir esquemas mentais errados, que promovem o conflito. «O tratamento nunca será só com comprimidos», pode passar por psicoterapia e também por exercício físico.

«Sou quase obcecado pela transmissão do poder do exercício físico na saúde e bem-estar mental. A quantidade de estudos que tem vindo a demonstrar a relação benéfica entre exercício físico e bem-estar mental, faz com que eu sinta a obrigação de referir aos meus doentes esta importância», justifica.

Claro que muitas pessoas preferem uma receita com um comprimido, mas para o bem-estar, para a promoção da saúde mental e mesmo para o tratamento de sintomas depressivos é muito difícil a existência de um comprimido mágico que resolva os sintomas na totalidade. «Nestes casos, as pessoas não saem da minha consulta simplesmente com uma receita, mas sim com uma recomendação para também se inscreverem num ginásio ou outra atividade física, desde que façam esforço prolongado, como andar de bicicleta, nadar ou correr – porque caminhar só não chega», sublinha.

Além do exercício físico, também se poderá juntar a meditação ou a revisão de hábitos alimentares. O certo «é que procuro ao máximo que as pessoas não tomem simplesmente medicação mas, quando é necessário usar, também sou o primeiro a prescrever. Sei os efeitos dos medicamentos, mas também sei o que os medicamentos não fazem», conclui e, pílulas para a felicidade, é coisa que ainda não existe.

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