“Afinal, é possível morrer de coração partido…”

O que até há pouco tempo não passava de uma expressão lírica, envolta em emoções de um coração quebrado, descrita pelos poetas como uma dor imensa e desesperante representando a perda da sua amada, hoje sabemos que, medicamente falando, podemos morrer de síndrome de coração partido

O primeiro relato ocorreu em 1990, no Japão. Ficou aí conhecida como Cardiopatia Takotsubo, descrita por Hiraku Sato, como sendo uma disfunção transitória no ventrículo esquerdo, associado a uma dor torácica. Em 2007 a Sociedade Europeia de Cardiologia propôs incluir esta síndrome nas cardiomiopatias não-classificadas, forma não-familiar. Segundo esta classificação, estas são doenças do miocárdio, nas quais o músculo cardíaco apresenta uma irregularidade no seu funcionamento e estrutura, havendo ausência de doença arterial coronária, hipertensão arterial, doença valvular ou doença cardíaca congénita, suficientes que justifiquem a alteração observada.

É importante perceber que na síndrome do coração partido, há uma interrupção temporária da função de bombeamento normal do coração em apenas uma área (ventrículo esquerdo), mas o restante coração continua a funcionar normalmente ou com contrações ainda mais fortes.

Esta síndrome caracteriza-se por ser induzida fundamentalmente por stress emocional e/ou físico intenso, mas a sua sintomatologia é muito semelhante a um enfarte agudo do miocárdio e por isso erroneamente diagnosticada. Na verdade, os testes mostram mudanças dramáticas no ritmo e substâncias sanguíneas que são típicas de um ataque cardíaco. Mas ao contrário deste, não há evidência de artérias cardíacas bloqueadas na síndrome do coração partido.

Os relatos indicam um início agudo com uma dor no peito, com dificuldade em respirar, transpiração excessiva, palpitações, náuseas, vómitos e/ou perda parcial de consciência (síncope). As arritmias também são descritas, bem como má perfusão, nas situações mais graves e que requerem suporte circulatório e ventilatório. Existem ainda relatos de casos de morte súbita.

Apesar de tudo, é considerada uma cardiopatia reversível, não havendo evidências de associação obstrutiva.

5 Principais Fatores de risco

Existem alguns dados curiosos que se revelam sobre esta cardiopatia.

 

  •  Sexo: a sua principal incidência é nas mulheres (cerca de 80-90%) em fase pós-menopausa.
  • Idade: ocorre na sua maioria a partir dos 50 anos.
  • Condição neurológica: as pessoas que têm distúrbios neurológicos, como uma lesão cerebral ou uma convulsão (epilepsia) têm um risco maior de síndrome do coração partido.
  • Origem Stress: nota-se um predomínio do género masculino, na origem de disfunções com origem em stress físico.
  • Hora do dia: Ao contrário do que acontece em situações de enfarte agudo do miocárdio, cujo pico de ocorrência é de manhã, a síndrome de Takotsubo surge mais frequentemente à tarde, período durante o qual é mais provável acontecerem eventos que despertam situações de culminar de stress emocional/físico.

 

Qual a diferença entre a síndrome do coração partido e o ataque cardíaco?

Os ataques cardíacos são geralmente causados ​​por um bloqueio completo ou quase completo de uma artéria do coração. Este bloqueio ocorre numa zona de estreitamento devido à mobilização de um coágulo ou acumulação de gordura na parede da artéria coronária (aterosclerose). Na síndrome do coração partido, as artérias do coração não são bloqueadas, embora o seu fluxo sanguíneo possa ser reduzido, apenas deixam de funcionar transitoriamente e dentro da normalidade no ventrículo esquerdo.

Será importante que cada um de nós reconheça a importância de gerir duma forma mais equilibrada as situações de stress que vão surgindo ao longo da vida e melhorar o nosso dia-a-dia.

Será esse equilíbrio, também, um passo importante para ajudar a prevenir a síndrome do coração partido, embora atualmente não haja como o provar diretamente.

 

 

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