O dia deve ter 24h00? Não. Foi a luz elétrica que nos criou essa ilusão. Mudou o ciclo dia/noite e começámos a prolongar as atividades do dia pela noite dentro, roubando ao sono o tempo que lhe é destinado. Hoje, somos uma sociedade cronicamente afetada pela privação do sono. Quantas horas andamos a dormir? Em laboratório, os ratos morrem ao fim de 17 dias sem dormir…

Nos anos 70, já havia a certeza de que tínhamos roubado uma hora e meia a cada noite de sono mas, no início deste século, esta tendência agravou-se, particularmente nas idades jovens. Os efeitos podem ser catastróficos.

Em 2006, o Observatório Nacional de Saúde quis avaliar a prevalência de perturbações do sono em Portugal e o inquérito concluiu que 15% dos entrevistados reconheceu dormir menos de 6 horas por noite, enquanto outra fatia de percentagem idêntica admitiu ter manifestações de sonolência diurna excessiva.

Num estudo recente, realizado a estudantes da Universidade de Aveiro, 45% dos questionados confessou só dormir o suficiente 1 a 2 noites por semana. O estudo encontrou ainda uma associação significativa entre padrões de sono e a sensação de bem-estar ou a nota final de aproveitamento.

Em ratos de laboratório, a simples privação do sono encurta a esperança de vida de dois a três anos, para cinco semanas, mas se a provação de sono for completa, estes mesmos ratos morrem ao fim de 17 dias…

Quando dormimos não é só o cérebro que altera o funcionamento. Todo o organismo se altera e passa a funcionar em modo de sono. Respiramos de maneira diferente, por comparação com o modo-vigília, o sistema cardiovascular apresenta variações, a produção hormonal sofre oscilações e algumas das hormonas de que necessitamos – como a hormona do crescimento – só se produzem durante o sono, razão porque as perturbações do sono dão tão importantes para um crescimento saudável nas crianças e jovens.

O sono é mesmo essencial para a recuperação orgânica, mas também para a recuperação cognitiva. A capacidade de desempenho intelectual, mas também a manual, ou a recuperação psicológica, como a estabilização do humor estão dependentes do acerto que fazemos com o sono.

O próprio sono também não é sempre igual. Todos nós necessitamos que exista em duas fases, que não se distribuem ao acaso. Têm regras. Mais uma vez, é o cérebro que comanda.

José Moutinho (médico pneumologista, com Competência em medicina do sono)

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